Bónus das férias: retrospectiva de Garry Winogrand

Por 26.9.14 , , ,

Peace Demonstration, Central Park, NY 1970 ©Garry Winogrand

Garry Winogrand, considerado hoje um dos ícones da fotografia do século XX, nasceu no Bronx, Nova Iorque, em 1928. Tinha por ambição captar a vida americana ao mais ínfimo pormenor e por isso nunca saía de casa sem a sua câmera e registava em película, de uma forma compulsiva, tudo o que o rodeava. Das ruas de Nova Iorque viajou para outros locais na América do Norte, sempre com a mesma vontade, uma dedicação impressionante de tão obstinada; usando as suas próprias palavras "Mais que um estudante de fotografia, sou um estudante da América do Norte". Criou um corpo de trabalho documental fundamental que cobre, na sua maioria as décadas de 50 e 60, e percorre Nova Iorque, São Francisco, Dallas, Houston, Chicago e as zonas rurais fascinantes do Oeste americano. Em 1984 foi vítima de uma das doenças que mais nos atormenta nos dias de hoje, o cancro.

Já conhecia parte do seu trabalho, mas não estava preparado para a excelência e abrangência da retrospectiva que esteve patente no Metropolitan Museum of Art em Nova Iorque até à semana passada. Mais de 175 fotografias, provas de contacto, entrevistas, cartas e livros, um verdadeiro crash course sobre Garry Winogrand e fotografia de rua.
Uma exposição extremamente completa, que demonstra um cuidado muito particular na contextualização do fotógrafo, não apenas como documentarista, mas também na procura pelo retrato da sociedade americana contemporânea. As suas fotos revelam um olhar certeiro do quotidiano, às vezes procurando algum dramatismo, outras um olhar mais cândido e descomprometido. As pessoas são um elemento basilar em grande parte do seu trabalho e os retratos informais tirados à queima-roupa uma imagem de marca, técnica seguida por outros grandes fotógrafos de rua como Bruce Gilden. Mas a rua não termina nos limites das cidades, existe espaço também para paisagens (e depois da nossa viagem percebemos melhor porque razão é difícil desassociar a América da sua beleza natural). Parece-me que para Winogrand, mais que captar o momento decisivo, existe uma vontade intrínseca de viver o momento e é essa vontade que define grande parte do seu trabalho.
A sua morte prematura deixou para trás um sem-número de provas de contacto, algumas com fotos já seleccionadas pelo artista mas nunca ampliadas, juntando-se ainda quase 6 mil rolos de filme (aproximadamente 250 mil fotos) por revelar, de onde apenas um terço foi já revelado.

Felizmente esta magnífica exposição não se vai apenas ficar por solo americano. Em breve virá até ao nosso velho continente. Já a partir do próximo mês (14 de Outubro a 25 de Janeiro) vai estar em Paris, na galeria Jeu de Paume e depois virá ainda para mais perto, para Madrid (3 de Março a 10 de Maio) para ser exibida na Fundacion Mapfre. Por isso, se gostam de fotografia de rua e tiverem planos para visitar Paris ou Madrid, ponham já esta exposição nas vossas agendas na lista das visitas obrigatórias.

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